(IstoÉ)Tão logo recebeu das mãos do
Agnelo Queiroz (PT) a faixa de governador, Rodrigo Rollemberg (PSB) marcou uma
entrevista para expor a situação de insolvência do Governo do Distrito Federal.
Naquele 1º de janeiro de 2015, segundo o socialista, havia em caixa módicos R$
64 mil. Para turbinar a arrecadação, Rollemberg anunciou medidas
impopulares como aumento de tributos. Mesmo assim, não conseguiu tirar o
governo da paralisia. Até agora, o governo do DF não inaugurou nenhuma obra
digna de celebração. Pior: sem poder contratar novos servidores, a
administração não consegue executar nem serviços básicos, como fechamento de
buraco em asfalto, poda de mato ou limpeza de esgoto.
Apesar da falta de recursos para
áreas estratégicas da administração, parece sobrar dinheiro para a corrupção. É
o que indica uma gravação, em poder do Ministério Público, ao qual ISTOÉ teve
acesso. No áudio, o vice-governador, Renato Santana (PSD), admite ter
conhecimento de um esquema de pagamento de propina dentro do governo de
Brasília. Segundo ele, acontece hoje na secretaria de Fazenda o repasse de
comissão de 10% por fechamento de contratos com empresas que prestam serviços
ao GDF. Este flagrante pode ser o início de mais um escândalo na administração
pública de Brasília. No diálogo, o vice-governador não deixa claro quem são os
beneficiários do esquema, mas, sem citar nomes, diz que “ele autorizou” os
pagamentos. Este sujeito indefinido terá que ser revelado.
O áudio tem duração de 1h27. No
diálogo, quem conversa com o vice-governador é a presidente do Sindicato dos
Servidores da Saúde de Brasília (Sindsaude), Marli Rodrigues. O encontro
ocorreu fora do gabinete da Vice-Governadoria, no Palácio do Buriti, sede do
Governo do DF. Teve como palco um apartamento de Águas Claras – cidade de
classe média no Distrito Federal, onde Santana ouvia as críticas de Marli sobre
o projeto de Rollemberg de entregar parte dos hospitais da capital federal para
as chamadas Organizações Sociais (OSs). Ela também reclamava da dificuldade
para ser atendida pelo secretário de Saúde, Humberto Fonseca. “Não entende nada
de saúde. Não conversa com a gente”, afirmou a sindicalista, referindo-se a
Fonseca. Em solidariedade, Santana disse que não participava do processo na
área da saúde. “Você quer saber qual é o timing que nós temos para colocar as
OSs funcionando?”, pergunta Santana. “Dois meses”, responde Marli. E ele
completa: “Rodrigo (Rollemberg) tá f*. Se não tem grana…”, comenta ele,
demonstrando a impossibilidade de cumprir o compromisso dentro do prazo por
falta de recursos. Na sequência, chega a parte comprometedora, após uma
provocação da sindicalista. Marli revela ao vice-governador ter conhecimento de
uma operação que desvia dinheiro público do governo estadual. Marli diz: “Você
tem conhecimento do pagamento de propina na Saúde de 30%? Você tem conhecimento
disso?”. Renato Santana responde: “Dez (%) eu tenho (conhecimento) da
(secretaria de) Fazenda”. Santana, então, tentar justificar sua inocência, mas
admite saber do pagamento. “Hoje, eu tô assistindo essa p* toda. Até porque,
(tenho) zero de envolvimento. Autorizou a pagar 10% de propina. Eu não
autorizei, mas o assunto chegou para mim. Eu me sinto… seria um escroto de não
te falar”, afirma ele.
Marli se mostra surpresa com a
revelação do vice-governador. “Tá desse nível? Então, você tem que perguntar
pra ele se autorizou 30% de propina. Você tem conhecimento disso? Dez por cento
você tem conhecimento?” E Marli ameaça: “Sabe o que eu acho? Eu vou abrir essa
p*. Eu vou abrir essa p*. A propina corre solta ali. Se você conhece 10%… Tem
muita gente envolvida nessa história. Sim, eu estou falando da Saúde. Agora, se
partir para outros locais que a gente também conseguir identificar, você vai
encontrar muitas coisas mais, entendeu? Então, fique longe de tudo isso”,
arremata a sindicalista.
A gestão do governo Rollemberg na
Saúde também é criticada pelo vice-governador em outro trecho do diálogo.
“Infelizmente, eu vou dizer pra você: todos os movimentos que foram feitos na
saúde, aí esquece corrupção, do ponto de vista administrativo, de modelo, até
agora, foi só atropelo, pô. Fez uma reestruturação uma bosta. Se foi de
propósito ou não, aí eu não sei.”
Marli tem travado uma luta com o
governador Rollemberg desde quando o socialista demonstrou interesse pelo
modelo de gestão hospitalar controlada por organizações sociais. A inspiração
para o modelo de gestão hospitalar veio de uma visita que o chefe do Poder
Executivo fez a hospitais goianos geridos pela iniciativa privada. Procurada
pela reportagem, a presidente do Sindsaude disse que não falaria sobre o
vazamento da gravação. “Só vou me pronunciar na Justiça”, ameaçou.
O diálogo deve azedar ainda mais
a relação entre Renato Santana e seu chefe no Poder Executivo local. O convívio
dos dois vizinhos do Palácio do Buriti é parecido com o que foi a relação de
Michel Temer com Dilma Rousseff. Menos polido que o presidente da República,
Renato Santana chegou a criticar abertamente o governo do socialista após
perder a cunhada Maria Cristina Natal Santana, 42 anos, diagnosticada com
dengue hemorrágica. Em um claro recado ao governador, Renato publicou um texto
na internet convocando os “tecnocratas” que fazem parte do GDF arregaçarem as
mangas e saírem “da bolha dos gabinetes”.
Por Ary Filgueira / Revista IstoÉ
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