O
violão: um dos instrumentos mais antigos do mundo e o mais tocado atualmente,
que vai de solos e acompanhamentos, pode ser acústico e elétrico. Um
instrumento múltiplo e ímpar, presente em grandes momentos da arte e mesmo da
política. No entanto, o quanto realmente sabemos desse instrumento?
Essa
é a proposta do músico brasiliense Álvaro Henrique, que veio resgatar e propagar
a história do instrumento no projeto recém aprovado no Fundo de Apoio à Cultura
(FAC), Violão de Todos os Tempos.
A
partir da realização de aulas-espetáculo, realizadas no começo de dezembro em
escolas públicas de Ceilândia, Paranoá, Samambaia e São Sebastião, Álvaro
pretende confeccionar um DVD com os momentos mais marcantes desses encontros,
traçando a história do violão desde as suas origens mais remotas até os dias
atuais.
“Desde
o início da minha carreira comecei a buscar o espírito de cada época, o Zeitgeist, do violão. Li textos de
várias épocas, manuais diversos, às vezes com notações musicais diferentes da
nossa e mesmo com caligrafias diferentes. Eu queria entender o que foi o violão
em cada época”, conta o músico, que interpretará nas apresentações composições
do El Maestro, o primeiro manual para
violão, datado de 1536.
O
conteúdo didático apresentado aos alunos trará não apenas a origem do
instrumento, mas mostrará que seus diversos momentos possuíam conotações
diferentes, como no século XVI, em que a vihuela,
um antepassado próximo. Ela teve sua criação ligada à situação política de uma
Espanha que lutava para eliminar todos os traços da cultura árabe, incluindo o
alaúde, o instrumento mais tocado na época.
Além
da vihuela, os encontros colocarão os
alunos em contato com o violão barroco, do século XVIII, o violão do século
XIX, e um violão mais moderno, feito de fibra de carbono e madeira. Este
contato não será apenas através de palavras, mas do toque e do som. Álvaro
trará consigo réplicas destes quatro momentos da evolução do violão, elaborados
pelo luthier francês Hugues Boivin,
parceiro do projeto.
“Ao
contrário de muitos outros instrumentos, que já atingiram seu estágio mais
avançado do desenvolvimento, o violão continua se adaptando, porque é muito,
muito variado. Ele faz solos, acompanhamentos, toca sozinho, em conjunto,
elétrico, acústico. O que funciona bem para um caso, não funciona bem para 006Futro.
Sua evolução é inevitável”, relembra Álvaro Henrique.
Projeto cultural e social
A
importância do evento, portanto, não se limita a um monólogo sobre o resgate da
história violão. É um projeto plural, de transformação, ao invés da mera
apresentação física e finita nos auditórios. Por isso a importância da gravação
de um DVD. “Queremos trazer esse mundo novo para todos, de uma maneira tão
relevante que, quando o DVD acabar, a pessoa possa se levantar e ver o violão
de outra forma”, conta o músico. A presença do projeto em centros escolares
afastados do centro cultural do Plano Piloto torna-o mais rico, principalmente
para os estudantes presentes. Sua presença não é de mera plateia, mas de
interlocutores e de agentes nesse resgate.
Mais
do que sobrevoar o violão pelo mundo, o projeto também busca ser uma chave para
a memória dos grandes nomes desse instrumento no país. Por muito tempo relegado
às classes baixas, o violão tem uma importância cabal na nossa arte. Afinal, o
que seria de Chico Buarque ou Vinícius de Morais sem um violão que desse
melodia às suas vozes? E, além do popular, o violão erudito no país tem uma
grande e bela história, sendo inclusive reconhecido internacionalmente. Um dos
músicos mais importantes da era do rádio brasileiro, Dilermando Reis, era um
grande violonista erudito, cujo um dos admiradores não era ninguém menos que o
então presidente Juscelino Kubitschek.
Em
suma, o violão não é apenas um corpo de madeira com cordas de aço. É uma parte
integrante da cultura e da história. Um instrumento único, em constante
evolução, tanto técnica quanto estética, que não aparenta ter um final à vista
no horizonte, e é este horizonte que Álvaro Henrique pretende desvelar a todos.
Apresentações
O
projeto Violão de Todos os Tempos ocorre
nos dias 3/12, às 9:30, no Paranoá (Qd. 04, Cj. A, Lt. 05); 4/12, às 8:30, em
Samambaia (QN 501, Cj. 03, Lt. 01); e 4/12, às 14:00, em São Sebastião (Qd
202/203, AE). Contamos com a presença de todos, para prestigiar o músico, os
estudantes, e essa entusiasmante história!
Quem é Álvaro Henrique?
Bacharel
em violão pela Universidade de São Paulo (USP), possui diploma de Kunstliche Ausbildung pela Hochschule für Musik Nürnberg (Alemanha)
e é mestre em música pela Universidade de Brasília (UnB). Participou de dezenas
de masterclasses com músicos de
destaque internacional como Odair e Sérgio Assad, Leo Brouwer e Ricardo Gallen.
Álvaro Henrique foi o primeiro brasiliense a gravar um álbum de violão erudito,
e participa ativamente na área de política cultural e participação popular da
cidade, por considerar que as decisões governamentais sobre arte, cultura e
comunicação afetam demais a vida das pessoas para serem feitas sem a
participação de profissionais das áreas.
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