quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Músico Álvaro Henrique leva crianças para uma viagem ao mundo do instrumento




O violão: um dos instrumentos mais antigos do mundo e o mais tocado atualmente, que vai de solos e acompanhamentos, pode ser acústico e elétrico. Um instrumento múltiplo e ímpar, presente em grandes momentos da arte e mesmo da política. No entanto, o quanto realmente sabemos desse instrumento?
Essa é a proposta do músico brasiliense Álvaro Henrique, que veio resgatar e propagar a história do instrumento no projeto recém aprovado no Fundo de Apoio à Cultura (FAC), Violão de Todos os Tempos.


A partir da realização de aulas-espetáculo, realizadas no começo de dezembro em escolas públicas de Ceilândia, Paranoá, Samambaia e São Sebastião, Álvaro pretende confeccionar um DVD com os momentos mais marcantes desses encontros, traçando a história do violão desde as suas origens mais remotas até os dias atuais.

“Desde o início da minha carreira comecei a buscar o espírito de cada época, o Zeitgeist, do violão. Li textos de várias épocas, manuais diversos, às vezes com notações musicais diferentes da nossa e mesmo com caligrafias diferentes. Eu queria entender o que foi o violão em cada época”, conta o músico, que interpretará nas apresentações composições do El Maestro, o primeiro manual para violão, datado de 1536.

O conteúdo didático apresentado aos alunos trará não apenas a origem do instrumento, mas mostrará que seus diversos momentos possuíam conotações diferentes, como no século XVI, em que a vihuela, um antepassado próximo. Ela teve sua criação ligada à situação política de uma Espanha que lutava para eliminar todos os traços da cultura árabe, incluindo o alaúde, o instrumento mais tocado na época.

Além da vihuela, os encontros colocarão os alunos em contato com o violão barroco, do século XVIII, o violão do século XIX, e um violão mais moderno, feito de fibra de carbono e madeira. Este contato não será apenas através de palavras, mas do toque e do som. Álvaro trará consigo réplicas destes quatro momentos da evolução do violão, elaborados pelo luthier francês Hugues Boivin, parceiro do projeto.

“Ao contrário de muitos outros instrumentos, que já atingiram seu estágio mais avançado do desenvolvimento, o violão continua se adaptando, porque é muito, muito variado. Ele faz solos, acompanhamentos, toca sozinho, em conjunto, elétrico, acústico. O que funciona bem para um caso, não funciona bem para 006Futro. Sua evolução é inevitável”, relembra Álvaro Henrique.

Projeto cultural e social

A importância do evento, portanto, não se limita a um monólogo sobre o resgate da história violão. É um projeto plural, de transformação, ao invés da mera apresentação física e finita nos auditórios. Por isso a importância da gravação de um DVD. “Queremos trazer esse mundo novo para todos, de uma maneira tão relevante que, quando o DVD acabar, a pessoa possa se levantar e ver o violão de outra forma”, conta o músico. A presença do projeto em centros escolares afastados do centro cultural do Plano Piloto torna-o mais rico, principalmente para os estudantes presentes. Sua presença não é de mera plateia, mas de interlocutores e de agentes nesse resgate.

Mais do que sobrevoar o violão pelo mundo, o projeto também busca ser uma chave para a memória dos grandes nomes desse instrumento no país. Por muito tempo relegado às classes baixas, o violão tem uma importância cabal na nossa arte. Afinal, o que seria de Chico Buarque ou Vinícius de Morais sem um violão que desse melodia às suas vozes? E, além do popular, o violão erudito no país tem uma grande e bela história, sendo inclusive reconhecido internacionalmente. Um dos músicos mais importantes da era do rádio brasileiro, Dilermando Reis, era um grande violonista erudito, cujo um dos admiradores não era ninguém menos que o então presidente Juscelino Kubitschek.

Em suma, o violão não é apenas um corpo de madeira com cordas de aço. É uma parte integrante da cultura e da história. Um instrumento único, em constante evolução, tanto técnica quanto estética, que não aparenta ter um final à vista no horizonte, e é este horizonte que Álvaro Henrique pretende desvelar a todos.

Apresentações
O projeto Violão de Todos os Tempos ocorre nos dias 3/12, às 9:30, no Paranoá (Qd. 04, Cj. A, Lt. 05); 4/12, às 8:30, em Samambaia (QN 501, Cj. 03, Lt. 01); e 4/12, às 14:00, em São Sebastião (Qd 202/203, AE). Contamos com a presença de todos, para prestigiar o músico, os estudantes, e essa entusiasmante história!

Quem é Álvaro Henrique?
Bacharel em violão pela Universidade de São Paulo (USP), possui diploma de Kunstliche Ausbildung pela Hochschule für Musik Nürnberg (Alemanha) e é mestre em música pela Universidade de Brasília (UnB). Participou de dezenas de masterclasses com músicos de destaque internacional como Odair e Sérgio Assad, Leo Brouwer e Ricardo Gallen. Álvaro Henrique foi o primeiro brasiliense a gravar um álbum de violão erudito, e participa ativamente na área de política cultural e participação popular da cidade, por considerar que as decisões governamentais sobre arte, cultura e comunicação afetam demais a vida das pessoas para serem feitas sem a participação de profissionais das áreas.

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